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A sensibilidade peculiar de Dostoiévski, o seu sentido do que há de trágico na vida dos seres comuns assim como das suas fraquezas, que lhe suscitam compaixão, fazem dele o retratista incomparável da época em que se inaugurava, sob o signo do progresso industrial, cultural e social, a modernidade de que ele é já um intérprete de pleno direito. A «actualidade» dessa época de transição, ao mesmo tempo cheia de promessas e de sinais de uma decadência gerada pelo apego às velhas mordomias do império, suscitou em Dostoiévski uma paixão que se traduziu na inesgotabilidade dos seus temas, centrados sempre na profundidade contraditória e caótica da subjectividade humana. Escrito ao mesmo tempo que os Cadernos da Casa Morta, o romance, A Aldeia de Stepantchikovo e os Seus Habitantes, (1859) é considerado uma das obras-primas do cómico dostoievskiano. É notável pelo trabalho dos diálogos, que fazem deste romance uma obra particularmente adaptável ao teatro. A narração, ambientada numa propriedade rural do interior da Rússia, é ferozmente corrosiva em relação aos pequenos dramas em que se comprazem as personagens, sobretudo Fomá Opísskin, um homem medíocre e frustrado que alimenta sonhos de grandeza e se comporta como um verdadeiro tirano em relação ao seu benfeitor com quem mantém uma relação parasitária. A presente edição deste volume é, como habitualmente nesta colecção, uma tradução directa do russo, da autoria de Nina Guerra e Filipe Guerra, vencedores do Grande Prémio de tradução literária APT/Pen Clube Português.
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