Em toda a tormentosa história da Itália, poucos nomes serão tão evocadores como este. Dois papas – Calisto III, que fez rever o processo de Joana d’Arc, e Alexandre VI, que mais curava de poder temporal que de virtudes morais: um político cruel para quem os fins sempre justificaram os meios – César Borgia: uma mulher que a beleza e o desregramento celebrizaram – Lucrécia. E um santo – S. Francisco Borja, nascido do ramo familiar que permanecera na Catalunha. A época é a da plena florescência do Renasci mento italiano, com o seu sentimento enérgico e vital das possibilidades criadoras do espírito do homem. E este em muitos aspectos impar movimento de renovação intelectual insere-se num dos mais conturbados períodos históricos da Europa, quando a Itália, politicamente, não era mais que uma coutada em que se entrechocavam os opostos interesses de domínio da França e da Espanha, ao passo que o Papado procurava tirar proveito desse degladiar de forças, lutando pela conservação do seu poder, em declínio desde a Idade Média. Ao contrário de outras famílias do tempo, como a dos Médicis, quase nulo foi o papel que os Bórgias tiveram no favorecimento das artes e das letras. Toda a sua energia se cristalizou na intriga e na sede de poder, de tal modo que Maquiavel não hesitou em apontar César Bórgia como seu modelo de tirano, e muitas páginas de O Príncipe foram directamente inspiradas na acção política daquele. Carregados embora de crimes, que a história pôs a nu, os Bórgias sempre exerceram na imaginação das gerações seguintes, e até hoje, um fascínio que terá talvez a sua raiz no obscuro desejo de vida perigosa que persegue toda a vida até o mais pacifico dos homens.
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