Com a publicação da presente correspondência filosófica — considerada uma das mais importantes do século XVIII —, Samuel Clarke deu início à tarefa, ainda não concluída, de tornar pública a vastíssima obra inédita de Leibniz, inaugurando assim um processo que veio ilustrar o que o próprio filósofo alemão escrevera um dia: «Quem só me conhece pelo que publiquei não me conhece.» Na verdade, só após a sua morte, em 1716, foi possível ter uma ideia do que representava a produção de Leibniz e, dentro dela, a correspondência.
No conjunto de toda a correspondência de Leibniz, o intercâmbio epistolar com Samuel Clarke ocupa um lugar singular, pois este interlocutor é um amigo e discípulo próximo da única figura que tem na altura talvez uma envergadura intelectual similar à sua — Isaac Newton. Por esta razão, a discussão estabelecida pode ver-se como um enfrentamento de Leibniz com a filosofia natural de Newton, defendida por Clarke.
A discussão, que é desencadeada pela suspeita, expressa por Leibniz, de que a filosofia de Newton se inspira num naturalismo que facilmente desemboca no ateísmo, acaba por se alargar a muitos outros temas, que vão da interpretação e implicações do princípio de razão à natureza do espaço, do tempo e da matéria, ou da possibilidade dos milagres ao sentido (ou sem sentido) da gravidade.
Do ponto de vista metodológico, a troca de argumentos põe a descoberto, com clareza crescente, o sentido do «racionalismo» leibniziano e a dimensão da distância que o separa do «empirismo» newtoniano e permite-nos assistir a uma espécie de luta entre dois titãs que defendem ideais diversos de ciência: enquanto Leibniz defende um ideal «dedutivo» de conhecimento científico, Newton apresenta-se como o campeão de um método empírico «meramente indutivo».
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